Francisco Alves - Misterioso amor (1937)

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48 هزار بار بازدید - 14 سال پیش - De Saint-Clair Senna. O inovador
De Saint-Clair Senna.

O inovador Mário Reis, pouco antes de morrer, declarou que, ao lado de Gardel e Maurice Chevalier, foi Francisco Alves (1898 - 1952) o maior cantor popular do mundo.

Alves iniciou a trajetória artística em 1918, como cantor de teatro e circo. Contudo, foi a atividade no teatro-revista, à qual se dedicou por quinze anos, que o fez se firmar como profissional. Foi também competente violonista, conforme se pode observar em gravações realizadas em dueto com o virtuoso do violão Rogério Guimarães.

Legou para a posteridade cento e trinta composições, mas muitas fontes questionam a sua competência enquanto autor, já que muitos dos seus trabalhos eram comprados. Almirante, porém, rebateu tais acusações ao esclarecer que "fazendo segundas-partes, ideando introduções e tudo o mais, inclusive estribilhos, acertou muito samba, vale dizer, compôs verdadeiramente inúmeras das músicas cuja coautoria ainda procuram negar-lhe".

Outra crítica recorrente ao cantor é quanto à estética de sua emissão vocal, que o aproxima do estilo europeu, ligado aos princípios do bel canto, e, assim, distante das expectativas daqueles que buscavam, a fim de criar uma identidade nacional, romper com a tradição cultural estrangeira. Mas, o prestígio do Rei da Voz (antonomásia popularizada por César Ladeira) era inabalável, a despeito dos extraordinários valores da MPB que emergiam em seu tempo.

Rui Castro pontua que ninguém poderá contestar a beleza de sua voz, afinação, respiração e sua classe ao cantar. Villela declara que o cantor chegou a impressionar os técnicos do bel canto por qualidades como musicalidade e interpretação. De fato, observam-se em muitas de suas gravações a farta extensão vocal, 'legato', e a fácil habilidade em emitir, com precisão, fortíssimos e pianíssimos.

O apoio do artista foi essencial para a divulgação do moderno samba dos Bambas do Estácio, dos quais assinava a coautoria das composições. Sinhô e Donga, ainda presos a influências do século XIX, encontraram nas músicas do pessoal do Estácio o contraste de um novo paradigma estético, cujas células rítmicas seriam o que melhor caracterizaria o samba carioca das próximas décadas.

Registrou as músicas dos mais prestigiados compositores da música brasileira, dos modernos aos mais antigos. Também gravou uma série de versões, algo que amortecia o impacto da invasão estrangeira, pois a concorrência que fazia cantando em nossa língua derrotava o intérprete importado e uma parte dos lucros ficavam aqui.

O artista, primeiro a conferir à atividade de cantor status profissional, foi o responsável pela maior vendagem de discos em 78rpm no país. Além de contribuir para a fixação de diversos gêneros musicais, sua influência ainda se fez sentir pelo lançamento de nomes da maior importância para a MPB, como foi o caso de Orlando Silva.

Sua morte, causada por acidente automobilístico, arrastou centenas de milhares, sem distinção de idade ou classe social, a acompanhar seu corpo até o Cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro. Era a primeira vez que um carro do Corpo de Bombeiros transportava um defunto. Albin declara que "Francisco Alves, com o peso de sua popularidade, e mesmo com a aura romântica de sua trajetória até a trágica morte, foi um dos fundamentos que construiu a mitologia em torno do estrelato da MPB". Grünewald complementa que:

Estava praticamente encerrado um ciclo da canção brasileira: aquele do cantor de voz empostada, que, junto aos possíveis matizes de interpretação, procurava essencialmente o brilho do efeito vocal. Como, a respeito de Francisco Alves, em 1933, dizia Orestes Barbosa, em samba: 'uma voz que tem cristais e nuances de ocarina'. E, para os saudosistas do bel-canto - entre os dois fogos dos urros (grande parte do rock) e dos sussurros (êmulos do importante João Gilberto e da bossa-nova) - restam as gravações, a era da reprodução.

Referências:

ALBIN, Ricardo Cravo. O livro de ouro da MPB. Rio de Janeiro: Ediouro Publicações, 2003.

CARDOSO JÚNIOR, Abel. Francisco Alves: As mil canções do Rei da Voz. Curitiba, Revivendo, 1998.

CASTRO, Ruy. Caixa tripla revive o injustiçado Chico Alves. O Estado de S. Paulo, p. D10, 24 ago. 1997.

GRÜNEWALD, José Lino. Francisco Alves. Perfil biográfico. Gravadoras RCA e BMG. s.d. (Encarte biográfico da coleção em CD de sucessos de Francisco Alves entre 1934 e 1937).

SANDRONI, Carlos. Ritmo melódico nos Bambas do Estácio. In: MATOS, C. N. de, MEDEIROS, F. T. de, TRAVASSOS, E. (orgs). Ao encontro da palavra cantada - poesia, música e voz. Rio de Janeiro: Sete Letras, 2001, p. 53-60.

TINHORÃO, José Ramos. Música popular - teatro & cinema. Petrópolis, RJ: Vozes, 1972.

P. S.: foi a voz do lendário cantor que se escutou durante a execução de Aquarela do Brasil, na abertura das Olimpíadas do Rio de Janeiro.
14 سال پیش در تاریخ 1389/02/11 منتشر شده است.
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